DORA MAAR by Picasso
Pablo Picasso, Dora Maar, 1937
Após termos abordado na aula passada a questão do
artista como génio no século XIX/XX, achei interessante
fazer um post sobre uma obra que, do meu ponto de vista, nos permite discutir a
liberdade do pintor em detrimento de quem por ele é representado.
Este quadro, é um dos
retratos de Dora Maar realizado por Picasso, em 1937. Dora Maar (1907-1997) foi uma das várias mulheres que o pintor teve ao longo da vida. Está representada
simultaneamente de face e de perfil. Picasso não quer limitar o retrato apenas
a uma perspetiva e procura incluir diversos elementos da
beleza da sua musa: a mão alongada na qual vem repousar a face; os dedos longos e
graciosos, realçados pelas unhas compridas; os olhos grandes, sublinhados pelas
sobrancelhas finas e longas, que vêm dar relevo à expressão grave do rosto.
A obra é composta de
cores vivas: amarelo, verde, vermelho, laranja. Porém, quando se olha para Dora
Maar aqui, a emoção que é representada parece ser nostálgica, o interior dos
olhos e os lábios de cor branca congelam a sua expressão. Ainda que representada
numa pose que nos parece à primeira vista espontânea e confortável, à medida
que vamos prolongando a observação, é como se ela estivesse aprisionada nesta
melancolia.
Sabemos que Dora Maar era
estéril, e na impossibilidade de providenciar descendência a Picasso, este
acabou por deixá-la, o que a abalou de tal modo que acabou por ser internada. Maar foi uma importante
fotógrafa do movimento surrealista. Trabalhou com diversos artistas dessa época,
como Henri Cartier-Bresson, e fez a fotografia de alguns filmes de Jean Renoir, tendo ainda participado nos manifestos de André Breton.
Trata-se, pois, de uma mulher talentosa e produtiva, cuja imagem acabou por ser reduzida à de amante de Picasso, consumida pela frustração de não lhe poder dar filhos. O próprio pintor representa-a
aqui nesta perspetiva, envolvida pela tristeza do que não lhe
pode providenciar.
Trata-se, pois, de uma mulher talentosa e produtiva, cuja imagem acabou por ser reduzida à de amante de Picasso, consumida pela frustração de não lhe poder dar filhos.
Isto vem reforçar a ideia
do artista colocado num pedestal, extraído do seu tempo, o mundo a girar ao seu
redor. A fotógrafa veio a afirmar, alguns anos depois, que de todas as obras
que o pintor fez dela, nenhuma representa Dora Maar, porque todas são fruto da
visão de Picasso. Aqui, a Mulher-Artista
desapareceu para se tornar exclusivamente a musa do artista.
Helena Trezentos Borges
Grata pela inserção desta artista no nosso arquivo, Helena. Como tivemos oportunidade de comentar, este é um dos muitos casos em que mulheres artistas, com obra de excelência, foram reduzidas à qualidade de objeto de inspiração idealizado. Começa agora a ser-lhes feita alguma justiça, como atesta a exposição presente na Tate https://www.tate.org.uk/whats-on/tate-modern/exhibition/dora-maar
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