ANDY WARHOL: A POP ART E A CRÍTICA À HORIZONTALIZAÇÃO DAS COISAS
Andy Warhol (Pittsburgh, 1928 — Nova Iorque, 1987) começa por estar ligado ao meio publicitário, sendo responsável por inúmeras ilustrações e slogans de campanhas publicitárias nos anos 1950, em contacto íntimo com o ambiente consumista norte-americano.
Quebrando a barreira entre arte e publicidade, cultura de elite e cultura popular, Andy Warhol revolucionou a arte da segunda metade do séc. XX ao liderar o movimento artístico da Pop Art. A
elevação de elementos banalizados pelo quotidiano ao estatuto de
objetos artísticos, com o objetivo de levantar questões sobre o modo de
viver norte-americano na época, é típico do movimento Pop Art.
Andy Warhol, Self-Portrait in Fright Wig, 1986
Fonte: My Modern Met
Com o duplo intuito de glorificar (assumindo a posição de consumidor) e criticar (enquanto artista) as problemáticas da reprodução em massa e do consumismo, Andy Warhol apropria-se de objetos de consumo, como as famosas latas de sopa Campbell e a garrafa da Coca-Cola, de figuras célebres da cultura de massas e da política, como Marilyn Monroe, Elvis Presley, Che Guevara ou Mao Tsé-Tung, e de símbolos icónicos da história da arte, como a famosa Mona Lisa de Da Vinci, entre outros. Ao elevar meros objetos do quotidiano ao estatuto de objeto artístico, Warhol levanta a questão «O que faz da arte, arte?», que é, no fundo, a questão basilar da Pop Art.
Aludindo à progressiva mecanização da cultura ocidental («The reason I'm painting this way is that I want to be a machine, and I feel that whatever I do and do machine-like is what I want to do»), os seus trabalhos são reproduzidos em série através de processos mecanizados como a serigrafia. Os objetos e temáticas do quotidiano são representados em padrões de cores fortes que jogam com a repetição e a variação. Ao escolher símbolos da iconografia popular americana como figuras centrais da sua obra, Warhol não só torna a arte acessível às massas em contraste com o Expressionismo Abstrato, movimento anterior de cariz assumidamente elitista, como também faz alusão à cada vez maior horizontalização das coisas provocada pelo capitalismo e pelos media, que colocam as mercadorias ao mesmo nível do que eventos trágicos como mortes em acidentes de carro, posicionando-os lado a lado numa página de jornal ou um imediatamente a seguir ao outro num segmento televisivo. Inspirado por De Chirico (1888-1978), Andy Warhol faz uso
do processo de repetição afirmando que também a vida é uma série de imagens que
mudam à medida que se repetem – a irregularidade na regularidade e vice-versa.
Andy Warhol, Marilyn Diptych, 1962
Fonte: smarthistory
Podemos tomar a sua peça Marilyn Diptych como
um exemplo perfeito da estrutura e do processo de concetualização que Andy Warhol
implementava na maioria das suas peças — apropriando-se da celebridade de
Marilyn Monroe, “consumida” pelas massas como se de um produto no supermercado
se tratasse, Warhol repete a mesma imagem inúmeras vezes, aludindo
à disposição dos produtos nos supermercados, e assim desumanizando a figura da atriz.
Nesta serigrafia, realizada após a
morte trágica de Monroe em 1962, Warhol traz à luz o lado obscuro do glamour, comentando como as celebridades são glorificadas como ícones e, paradoxalmente, reificadas como qualquer produto de consumo. A repetição mecânica da mesma imagem alude, pois, ao
processo de reprodução mecânico cada vez mais omnipresente. O contraste entre
cores vivas e monocromáticas faz, simultaneamente, referência ao desgaste
psicológico da própria atriz perante o culto que lhe era prestado e à
dicotomia vida/morte.
Andy Warhol, Car Crash, 1978-1979
Fonte: Artsy
Andy Warhol, Electric Chair (FS II.74), 1971
Fonte: Artsy
A referência a cenas trágicas, como a morte de Monroe em Marilyn Diptych, mencionada anteriormente, mas também a acidentes ou à pena de morte, na série conhecida como Death and Disaster Series, comenta a passividade das massas perante tais eventos e opera uma crítica à naturalização do trágico devido ao sensacionalismo provocado pelos media que, ao repetirem as mesmas narrativas e imagens sistematicamente, anestesiam as audiências («When you see a gruesome picture over and over again, it really doesn’t have any effect»). Nesta última série, ao repetir exaustivamente imagens trágicas, Warhol pretende despi-las de significado, incorrendo no mesmo exercício que os media, que, de forma a obterem a adesão do público sedento por drama, repetem até à exaustão e sensacionalizam incessantemente este tipo de ocorrências graves, levando à dormência e consequente cegueira das massas .
Concluindo, nas suas obras, Andy Warhol fazia-se valer bastante da repetição de imagens de forma a espelhar a reprodução e repetição em massa evidentes na sociedade americana da sua época devido ao desenvolvimento exponencial da tecnologia e dos media, para se referir a temáticas como a morte e «o modo americano de morrer», a fama, o culto, a desumanização, o quotidiano, o consumismo, entre outros.
Para saber mais, consultem
The School Of Life: Andy Warhol (youtube)
The Andy Warhol Museum
Inês Granja
Inês Granja
Tivemos oportunidade de discutir este seu post em sala de aula, Inês, e vimos como a ironia é a estratégia retórica prevalecente na Arte Pop, que se socorre dos meios de reprodução da sociedade de consumo para criticar a mercantilização de pessoas e sentimentos.
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