3 versões da mesma performance

Irei apresentar-vos 3 performances muito semelhantes, todas com o mesmo objetivo. A sua realização comprova como é tão fácil “objetificar” um ser humano apenas por ele se encontrar indefeso, imóvel e neutro. Com o passar de alguns minutos, as pessoas conseguem tornar-se autênticos seres primitivos, selvagens e atrozes, sem qualquer tipo de valores morais.
A primeira foi criada em 1964 por Yoko Ono, e é intitulada Cut Piece; dez anos depois, Marina Abramovic realizou Rhythm 0. Por último, quero mencionar uma performance a que assisti no âmbito do Festival de Teatro Académico, FATAL, que decorreu na cantina da FLUL, e foi inspirada pela peça de Abramovic.
Cut Piece realizou-se num palco para concertos, e Ono convidou os espetadores a serem também eles participantes ativos. Era-lhes dada uma tesoura para cortarem a roupa da artista e no final da performance, Ono ficou de tronco nu, e desprotegida, cobrindo o peito com as mãos.


Mais tarde, Mariana Abramovic, considerada a “avó” da Arte da Performance, realizou uma versão bem mais radical. A artista colocou sobre uma mesa 72 objetos que podiam ser utilizados sobre ela da forma que os visitantes bem entendessem. Alguns eram destinados ao prazer, outros à dor – havia desde um simples copo de água, a comida, uma rosa com espinhos, tesouras e, inclusive, uma arma carregada. Abramovic permaneceu 6 horas imóvel, como um objeto. A performance terminou com a artista com cortes no pescoço, uma cruz feita com uma faca na barriga e espinhos de rosa espetados na pele. Foi submetida a toques de cariz sexual e houve até quem lhe apontasse a arma à cabeça. Quando Abramovic, completamente desfigurada, caminhou em direção ao público todos fugiram a sete pés diante do testemunho do próprio ato que haviam cometido.


Por fim, a performance a que assisti na cantina da faculdade, foi também à sua maneira agressiva e rebuscada. Partia de um pressuposto idêntico ao de Abramovic, dispondo diversos objetos sobre uma mesa: houve quem lhe cobrisse o rosto com plástico aderente, deixando-o quase sem respirar, só de roupa interior; obrigaram-no a beber uma garrafa inteira de álcool; atiraram-lhe água fria; foi deitado em cima de uma mesa e amarrado, sob uma cadeira cheia de pratos de comida e outros pesos...

Julgo que estas performances nos demonstram como o ser humano pode ser bárbaro e tratar os outros como autênticos objetos quando lhe é dada a oportunidade.
                                                                                                                                                  Nuno Dias

Comentários

  1. Grata pela partilha, Nuno. Devo confessar que a mim me fascina a passividade da audiência face à crescente agressividade de alguns dos seus membros, pois a liberdade de ação não condena a eventual crítica... esta atitude de voyeur passivo lembra a psicologia das massas e os crimes políticos assim cometidos.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares