10 anos a recuperar Arte Popular
fig.1 Joana Vasconcelos
Joana Vasconcelos
é uma artista portuguesa que vive e trabalha em Lisboa. Nasceu a 1971 e expõe
regularmente desde meados dos anos 1990.
Dei ao meu post o nome
de "10 anos a recuperar Arte Popular" pois em 2019 faz 10 anos que a artista começou a sua série de pinturas em croché, uma recuperação de práticas tradicionais portuguesas como é o
caso da arte da agulha.
Se acedermos ao site da artista, onde podemos encontrar
todas as suas obras, relativamente a esta série deparamos-nos
com a seguinte descrição: "As obras da série Pinturas em Croché - tal como [indica] o próprio nome da série - desafiam declaradamente o conceito modernista da autonomia dos diferentes meios artísticos. Pintura e escultura dialogam, invocando simultaneamente o corpo e a paisagem, o figurativo e a abstracção. Através de volumes em croché listados - mais ou menos alongados, por vezes pontuados com objetos diversos, sobrepondo-se para organizarem composições sinuosas e festivas- insinuam-se as montanhas coloridas de um mundo irreal".
De facto, é isto mesmo, a artista
aborda nas suas obras a cultura popular, a tradição em concílio com a
contemporaneidade, desafiando a arte contemporânea a explorar novas
formas de exposição do objeto artístico. As obras desta série esboroam as fronteiras entre pintura e escultura, num jogo de
rendas e bordados, de caráter abstrato. O croché é colocado muitas das vezes sobre uma
tela dentro de uma moldura dita “tradicional” com relevos dourados
contraplacados.
Todos os bordados são diferentes: encontramos desde bordados
mais simples, como o primeiro que a artista produziu, intitulado Horizontes,
até peças mais complexas, como Gipsy, produzido em 2015. Gipsy é um dos meus preferidos
dentro da série, pois, para além do croché em lã feito à mão, dos tecidos e dos adereços, a
artista usou luzes LED a envolver o trabalho de croché, colocado em saliência com um
espelho biselado e uma moldura de madeira pintada em tons pretos e dourados. Neste
quadro-escultura sinto o poder de uma classe minoritária na sociedade, sinto corpos que
saltam da tela e mostram um mundo mais burlesco, de festividade, corpos que dizem — eu estou aqui e vejam como posso ser fabulosa!
fig.2 Horizontes, 2009
fig.3 Gipsy, 2015
Lembremos ainda que este trabalho, além de recuperar práticas tradicionais, é também uma homenagem às mulheres, cujos lavores são assim recontextualizados e retirados da esfera meramente doméstica.
Lia Lourenço
Grata pela partilha, Lia. O post https://contemporary-art-flul.blogspot.com/2019/11/a-escultura-textil-contemporanea.html da Maria Beatriz aborda uma temática idêntica e pode ser usado como ponto de partida para um diálogo interessante.
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