MUSEUS

"Dor de museu"

"Só posso chamar assim porque essa dor só aparece quando percorro museus. Mal começo a caminhar e a parar diante dos quadros vem a dor no ombro esquerdo - é sempre a mesma. Gostaria de saber do que se trata. É dor de emoção?"

LISPECTOR, Clarice. A Descoberta do Mundo - Crónicas (1984). Relógio d'Água Editores, Março de 2012. p 214.



D: Numa das primeiras aulas foi-nos colocada uma questão inesperada: "já choraram à frente de um quadro?". Pouco tempo antes dessa pergunta entrar na minha vida, tinha tido uma conversa sobre como não consigo estabelecer uma relação com os museus. Nunca soube o que é, ao certo, ir ao museu - fico sempre confusa e nunca satisfeita e talvez também um pouco frustrada. Saio com muitas questões e penso que mais valia não ter ido. A verdade é que há sempre uma constante involuntária que é a tentativa de me encontrar lá, sem nunca conseguir. Talvez seja esta a minha dor de museu.

Entretanto, vi este vídeo que é um Q&A com Anne Umland, curadora do MoMA. Muito interessante para quem tem interesse em curadoria da arte, mas para o tema do post seria mais adequado que vissem a resposta a esta pergunta.

P.S. Partilhem nos comentários a vossa experiência nos museus e de que forma se relacionam com eles e com as obras de arte. 
Daniela Lesco

Comentários

  1. Tão interessantes estes vídeos (de facto o MoMA é muito à frente). Como sublinham os autores de 'Art as Therapy', o livro de cabeceira da nossa disciplina, a curadoria é fulcral para nos ajudar a estabelecer uma relação criativa com as obras expostas. Outra questão é a nossa real disponibilidade para comunicar com os artistas — Anne Umland pede uns humildes 30 segundos de atenção e silêncio diante de uma obra, antes de tirarmos uma selfie ou começarmos a disparar comentários (por isso é que eu adoro ir aos museus sozinha!).

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  2. É verdade que o ambiente estrategicamente criado nos museus compromete a perspetiva relativa ao próprio espaço e fomenta o desapego das obras de arte, bem como a sensação de que são inatingíveis, mas curiosamente nunca permiti que tal me afetasse. Apesar de sentir a frieza das salas, quando visito museus, fundamentalmente, procuro apreciar a técnica e a capacidade dos artistas fazerem o que nunca conseguirei e, portanto, admiro ou simplesmente apreciar a forma pura da obra de arte pelas características estéticas e possíveis significações que lhes podem ser atribuídas. Realmente, a arte é de todos e para todos, e chega a cada um de nós de diferentes formas e o museu é só uma dessas e nada mais do que isso. Acho fundamental tentar relativizar a pressão que exercemos nos museus. Sinto que o espaço que nos pode condicionar é a nossa cabeça, mais do que o museu.

    Catarina Mendes

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